terça-feira, 30 de março de 2010

Filosofia

Tales de Mileto


Tudo é água.
TALES

Tales (623-546 a.C., aproximadamente) costuma ser considerado o primeiro pensador grego, “o pai da filosofia”. Na condição de filósofo, buscou a construção do pensamento racional em diversos campos do conhecimento que, hoje, não são considerados especialidades filosóficas. Foi astrônomo e chegou a prever o eclipse total do Sol ocorrido em 28 de maio de 585 a.C.

Procurando fugir das antigas explicações mitológicas sobre a criação do mundo. Tales queria descobrir um elemento físico que fosse constante em todas as coisas. Algo que fosse o principio unificador de todos os seres.

Inspirando-se provavelmente em concepções egípcias, acrescidas de suas próprias observações da vida animal e vegetal, concluiu que a água é a substancia primordial, a origem única de todas as coisas. Para ele, somente a água permanece basicamente a mesma, em todas as transformações dos corpos, apesar de assumir diferentes estados – sólido, líquido ou gasoso.


Heráclito de Éfeso: o movimento perpétuo do mundo



Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo.
O ser não é mais que o vir-a-ser.
HERÀCLITO

Nascido em Éfeso, cidade da região jônica, Heráclito é considerado um dos mais importantes filósofos pré-socráticos. A data do seu nascimento e da morte não são conhecidas. Há referências históricas de que por volta do ano 500 a.C., estava em plena “flor da idade”.

Heráclito é considerado o primeiro grande representante do pensamento dialético. Concebia a realidade do mundo como algo dinâmico, em permanente transformação. Daí sua escola filosófica ser chamada de mobilista (de movimento). Para ele, a vida era um fluxo constante, impulsionado pela luta de forças contrárias: a ordem e a desordem, o bem e o mal, o belo e o feio, a construção e a destruição, a justiça e a injustiça, o racional e o irracional, a alegria e a tristeza, etc.. Assim, afirmava que “a luta (guerra) é a mãe, rainha e princípio de todas as coisas”. É pela luta das forças opostas que o mundo se modifica e evolui.

Atribuem-se a Heráclito frases marcantes, de sentido simbólico, utilizadas para ilustrar sua concepção sobre o fluxo e movimentação das coisas, o constante vir-a-ser, a eterna mudança, também chamada de devir: Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio, pois suas águas se renovam a cada instante. Não tocamos duas vezes o mesmo ser, pois este modifica continuamente sua condição.
Assim, Heráclito imaginava a realidade dinâmica do mundo sob a forma de fogo, com chamas vivas e eternas, governando o constante movimento dos seres.


Sofistas
Os primeiros mestres na arte da argumentação

O período pré-socrático foi dominado, em grande parte, pela investigação da natureza. Essa investigação tinha um sentido cosmológico. Era a busca de explicações racionais para o universo manifestada na procura de um principio primordial (arché) para todas as coisas existentes. Seguiu-se a esse período uma nova fase filosófica, caracterizada pelo interesse no próprio homem com a sociedade. Essa nova fase foi marcada, no início, pelos sofistas.
Etimologicamente, o termo sofista significa sábio. Entretanto, com o decorrer do tempo, ganhou sentido de impostor, devido, sobretudo, às críticas de Platão.
Os sofistas eram professores viajantes que, por determinado preço, vendiam ensinamentos práticos de filosofia. Levando em consideração os interesses dos alunos, davam aulas de eloqüência e de sagacidade mental. Ensinavam conhecimentos úteis para o sucesso nos negócios públicos e privados.

O momento histórico vivido pela civilização grega favoreceu o desenvolvimento desse tipo de atividade prática pelos sofistas. Era uma época de lutas políticas e intenso conflito de opiniões nas assembléias democráticas. Por isso os cidadãos mais ambiciosos sentiam necessidade de aprender a arte de argumentar em público para, manipulando as assembléias fazerem prevalecer seus interesses individuais e de classe.

As lições dos sofistas tinham como objetivo, portanto, o desenvolvimento do poder da argumentação, da habilidade retórica, do conhecimento de doutrinas divergentes. Eles transmitiam, enfim, todo o jogo de palavras, raciocínios e concepções que seria utilizado na arte de convencer as pessoas, driblando as teses dos adversários.

Todas essas características dos ensinamentos dos sofistas favoreceram o surgimento de concepções filosóficas relativistas sobre as coisas. Segundo essas concepções, não haveria uma verdade única, absoluta. Tudo seria relativo ao homem, ao momento, a um conjunto de fatores e circunstâncias.


Sócrates de Atenas
O homem que sabia perguntar


Alguns pensadores do período da Filosofia Antiga

“Sei que nada sei”
SÒCRATES

Nascido em Atenas, Sócrates (469-399 a.C.) é tradicionalmente considerado um marco divisório da história da filosofia grega. Por isso, os filósofos que os antecederam são chamados de pré-socráticos e os que o sucederam, de pós-socráticos. O próprio Sócrates, porém não deixou nada escrito, e o que se sabe dele e de seu pensamento vem dos textos de seus discípulos e de seus adversários (Platão foi seu discípulo e o que mais escreveu sobre suas idéias.).
Conta-se que Sócrates era filho de um escultor e de uma parteira. Uma dupla herança que simbolicamente, o levou a esculpir uma representação autêntica do homem, fazendo-o dar à luz suas próprias idéias.

O estilo de vida de Sócrates assemelhava-se, exteriormente, ao dos sofistas, embora não “vendesse” seus ensinamentos. Desenvolvia o saber filosófico em praça pública,conversando com os jovens, sempre dando demonstrações de que era preciso unir a vida concreta ao pensamento. Unir o saber ao fazer, a consciência intelectual à consciência prática e moral.

O autoconhecimento era um dos pontos fundamentais da filosofia socrática. “Conhece-te a ti mesmo”, era a recomendação básica feita por Sócrates a seus discípulos.

Sua filosofia era desenvolvida mediante diálogos críticos com seus interlocutores. Esses diálogos podem ser divididos em dois momentos básicos: a ironia e a maiêutica.

A ironia

Na linguagem cotidiana, a ironia tem significado depreciativo, sarcástico ou de zombaria. Mas não é esse o sentido da ironia socrática. No grego, ironia quer dizer interrogação. De fato, Sócrates interrogava seus interlocutores sobre aquilo que pensavam saber. O que é o bem? O que é a justiça? E a coragem? E a piedade? São exemplos de algumas perguntas feitas por ele.

No decorrer do diálogo, atacava de modo implacável as respostas de seus interlocutores. Com habilidade de raciocínio, procurava evidenciar as contradições afirmadas, os novos problemas que surgiam a cada resposta. Seu objetivo inicial era demolir, nos discípulos, o orgulho, a arrogância e a presunção do saber. A primeira virtude do sábio é adquirir consciência da própria ignorância. “Sei que nada sei”, dizia Sócrates.

A ironia socrática tinha um caráter purificador na medida em que levava os discípulos a confessarem suas próprias contradições e ignorâncias, onde antes só julgavam possuir certezas e clarividências.

Nesta fase do diálogo, a intenção fundamental de Sócrates não era propriamente destruir o conteúdo das respostas dadas pelos interlocutores, mas fazê-los tomar consciência profunda de suas próprias respostas, das conseqüências que poderiam ser tiradas de suas reflexões, muitas vezes repletas de conceitos vagos e imprecisos.

A maiêutica

Libertos do orgulho e da pretensão de que tudo sabiam, os discípulos podiam então iniciar o caminho da reconstrução de suas próprias idéias. Novamente, Sócrates lhes propunha uma série de questões habilmente colocadas.

Nesta segunda fase do diálogo, o objetivo de Sócrates era ajudar seus discípulos a conceberem suas próprias idéias. Assim, transportavam para o campo da filosofia o exemplo de sua mãe, Fenareta, que, sendo parteira ajudava a trazer crianças ao mundo. Por isso, essa fase do diálogo socrático, destinada á concepção de idéias, era chamada de maiêutica, termo grego que significa arte de trazer à luz.

Um corruptor da juventude?

Sócrates não dava importância à posição socioeconômica de seus discípulos. Dialogava com ricos e pobres, cidadãos e escravos. O que importava eram as condições interiores, psicológicas, de cada pessoa, pois essas condições eram indispensáveis ao processo de autoconhecimento.
Para a democracia ateniense, da qual não participava a maioria da população, composta de escravos, estrangeiros e mulheres, Sócrates foi considerado subversivo. Representava uma ameaça social, na medida em que desrespeitava a ordem vigente e dirigia suas atenções para as pessoas, sem fazer distinções de classe ou posição social. Interessado tão-somente na prática da virtude e na busca da verdade contrariava os valores dogmáticos da sociedade ateniense. Por isso, recebeu a acusação de ser injusto com os deuses da cidade e de corromper a juventude. No final do processo foi condenado a beber cicuta (veneno extraído de uma planta do mesmo nome).

Diante de seus juízes, Sócrates assumiu uma postura viril, altaneira, imperturbável, de quem nada teme. Permanecia absolutamente em paz com sua própria consciência. Se alguém lhe perguntasse “Não te envergonhas, Sócrates, de ter dedicado à vida a uma atividade pela qual te condenam à morte?”, ele responderia: Estás enganado, se pensas que um homem de bem deve ficar pensando, ao praticar seus atos, sobre as possibilidades de vida ou de morte. O homem de valor moral deve considerar apenas, em seus atos, se eles são justos ou injustos, corajosos ou covardes .

Foi assim que Sócrates procurou caracterizar sua vida: construindo uma personalidade corajosa e guiando sua conduta pelo critério de justiça. Viveu conforme sua própria consciência. Morreu sem ter renunciado a seus mais caros valores morais.




Diferenças entre Sócrates e os sofistas

Vejamos a concepção tradicional sobre os sofistas que desenvolveu a partir das críticas de Platão em relação as idéia de Sócrates .
A crítica de Platão aos sofistas só é compreensível à luz das muitas oposições que ele estabelece entre eles e Sócrates:

1. O sofista é um professor ambulante. Sócrates é alguém ligado aos destinos de sua cidade; tanto assim que, condenado injustamente à morte, recusa-se a fugir, acatando a decisão de seus concidadãos.
2. O sofista cobra para ensinar. Sócrates vive sua vida, e essa confunde-se com a atividade filosófica: filosofar não é profissão; é a atividade do homem livre;
3. O sofista “sabe tudo”, e transmite um saber pronto, sem critica (que Platão identifica como uma “mercadoria” que o sofista, mercador exibe e vende). Sócrates diz nada saber, e, colocando-se no nível de seu interlocutor, dirige uma aventura dialética em busca da verdade, que está no interior de cada um;
4. O sofista faz retórica. Sócrates faz dialética. Na retórica, o ouvinte é levado por uma enxurrada de palavras que, se adequadamente compostas, persuadem sem transmitir conhecimento algum. Na dialética, que opera por perguntas e respostas, a pesquisa procede passo a passo, e não é possível ir adiante sem deixar esclarecido o que ficou para trás;
5. O sofista refuta por refutar, para ganhar a disputa verbal. Sócrates refuta para purificar a alma de sua ignorância.

Maura Iglésias
Curso de Filosofia, p.38.


Referência Bibliográfica

COTRIM, Gilberto Cotrim. Fundamentos da Filosofia ser, saber e fazer. 12ª edição, editora Saraiva – 1996.


ATIVIDADES:

1) Faça um resumo do pensamento dos filósofos Tales de Mileto e Heráclito.

2) Em que sentido Tales de Mileto foi denominado “o pai da filosofia”? Tales queria descobrir um elemento físico que fosse constante em todas as coisas. Algo que fosse unificador de todos os seres. Comente.

3) Explique as duas grandes fases do diálogo de Sócrates com seus interlocutores.

4) A filosofia para Sócrates se inicia através da seguinte expressão “sei que nada sei”. Qual era o objetivo de Sócrates em utilizar esta expressão? Justifique

5) Resuma os dois diálogos de Sócrates (a ironia e a maiêutica). Comente a parte que mais lhe chamou atenção.

6) Que Fe fez Sócrates para ser considerado um elemento perturbador da democracia ateniense? Comente

7) Caracteriza os sofistas. Qual o objetivo básico de suas lições?

8) Quais seriam as semelhanças e diferenças fundamentais entre Sócrates e os sofistas?

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